
Em 20 de janeiro de 1968, Syd Barrett, cofundador e a mente criativa por trás do Pink Floyd, subiu ao palco pela última vez como membro da banda. Naquele sábado frio em Hastings, Inglaterra, o pioneiro do rock psicodélico não conseguiu manter a performance. Foi o ato final de uma trajetória brilhante, mas marcada por turbulências pessoais e artísticas.
O Declínio de um Gênio
Barrett foi o visionário que guiou o Pink Floyd nos primeiros anos, criando canções icônicas como "Arnold Layne" e "See Emily Play", além de compor quase todo o álbum The Piper at the Gates of Dawn (1967). No entanto, o abuso de LSD e o desenvolvimento de uma condição psicológica, posteriormente descrita como síndrome paranoica, começaram a comprometer sua habilidade de liderar a banda.
No palco, o comportamento errático de Syd se tornou cada vez mais evidente. Ele esquecia as letras, tocava desafinado ou parava de tocar. Durante uma apresentação no UFO Club, em Londres, Barrett entrou em um estado catatônico, permanecendo imóvel com sua guitarra pendurada, enquanto os outros membros da banda tentavam seguir o show.
Esses episódios tornaram insustentável sua permanência, levando Roger Waters e os demais a enfrentarem uma dolorosa realidade: o Pink Floyd não poderia continuar com Syd naquele estado.
A Chegada de David Gilmour
Com a saúde mental de Barrett se deteriorando, a banda tomou a difícil decisão de integrar um novo guitarrista. David Gilmour, amigo de infância de Syd e músico talentoso, juntou-se ao Pink Floyd em dezembro de 1967. A princípio, ele foi trazido para complementar as apresentações ao vivo, cobrindo as ausências de Syd, mas rapidamente se tornou uma peça central no grupo.
Em janeiro de 1968, Gilmour começou a substituir Barrett em shows. Essa transição culminou em um ensaio emblemático, onde Syd apresentou uma composição chamada “Have You Got It Yet?”. A música era um desafio intencional: Barrett mudava constantemente sua estrutura, tornando impossível para os outros acompanhá-lo. Esse momento tragicômico foi, para muitos, a confirmação de que o gênio criativo de Barrett coexistia com uma mente que lutava para manter a estabilidade.
O Fim de uma Era
Em 26 de janeiro de 1968, a banda decidiu não buscar Syd antes de um show na Universidade de Southampton. Foi um marco simbólico: a banda seguiu sem ele. Embora ainda fosse tecnicamente membro do Pink Floyd, sua participação tornou-se esporádica, limitando-se à gravação de "Jugband Blues", para o álbum A Saucerful of Secrets (1968).
Pouco tempo depois, em abril de 1968, sua saída foi oficializada. A banda, agora com Gilmour na formação, seguiu um novo rumo criativo, mas a presença de Syd nunca deixou de ser sentida.
O Legado de Syd Barrett
Apesar de sua breve passagem pelo Pink Floyd, a influência de Barrett é imensurável. Seu estilo visionário e suas composições abriram as portas para a experimentação no rock psicodélico. Sua memória foi eternizada por seus colegas em trabalhos como o álbum Wish You Were Here (1975) e na épica "Shine On You Crazy Diamond", ambas homenagens ao amigo que deu início a tudo.
Syd Barrett continua sendo um símbolo da genialidade e das complexidades humanas, lembrado tanto por sua contribuição revolucionária quanto pela tragédia de seu declínio.
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