
O álbum Animals (1977) do Pink Floyd é uma obra que vai além da música. Inspirado no clássico literário Animal Farm, de George Orwell, o disco apresenta uma crítica feroz às divisões sociais e ao capitalismo. Esse conceito não apenas influenciou as letras, mas também a icônica capa do álbum, cuja criação foi repleta de simbolismos e desafios.
Battersea Power Station: A Escolha de Roger Waters
A imagem principal da capa de Animals é a Battersea Power Station, uma usina elétrica em estilo art déco localizada no sul de Londres. Esse edifício monumental, que já havia aparecido em 1965 no filme Help! dos Beatles, foi escolhido pelo baixista Roger Waters. Ele vivia próximo ao local e frequentemente passava pela estrutura, fascinado por sua imponência.
Mais do que um pano de fundo estético, a escolha da Battersea Power Station tinha um propósito: simbolizar a máquina capitalista e sua hiperprodutividade. Na época, a usina fornecia eletricidade a 20% de Londres, representando a força motriz por trás de uma sociedade industrializada.
A Conexão com Animal Farm e o Porco Voador
O porco voador, elemento central da capa, é uma referência direta à obra de Orwell e à música "Pigs (Three Different Ones)". Na fábula distópica de Orwell, os porcos representam a elite corrupta que governa os demais animais da fazenda. Na interpretação do Pink Floyd, o porco simboliza a ganância e a hipocrisia do poder.
Para dar vida a esse conceito, a banda contratou a empresa alemã Ballon Fabrik para construir um balão inflável gigante em forma de porco, chamado Algie. A ideia era fotografar o balão flutuando entre as icônicas chaminés da usina.
Sessões Fotográficas e Desafios
As sessões fotográficas, organizadas pelo estúdio de design gráfico Hipgnosis, foram um verdadeiro teste de paciência. Durante três dias, a equipe tentou capturar a imagem perfeita, mas enfrentou diversos contratempos.
No primeiro dia, problemas técnicos impediram o balão de decolar. No segundo, um desastre: Algie escapou e voou descontroladamente pelos céus de Londres, chegando a interferir no tráfego aéreo do Aeroporto de Heathrow. O balão só foi recuperado horas depois em um campo de fazenda em Kent.
No terceiro dia, apesar de todas as precauções, a equipe não conseguiu capturar a cena ideal. Como solução, decidiram sobrepor a imagem do balão à fotografia da usina durante a pós-produção, criando a capa final que conhecemos hoje.
A Capa como Extensão do Conceito Musical
A arte de Animals é um exemplo brilhante de como uma capa pode ser uma extensão visual do conceito musical. A fotografia sombria e industrial da usina, combinada com o porco flutuando, evoca a atmosfera de alienação, crítica social e desconfiança que permeia as músicas do álbum.
Além disso, a escolha do porco como elemento visual reforça a ligação entre as letras do disco e os personagens de Animal Farm. A capa, assim como o álbum, desafia o ouvinte a refletir sobre a sociedade e suas divisões.
Legado da Arte de Animals
A capa de Animals não apenas se tornou uma das mais reconhecíveis da história do Pink Floyd, mas também consolidou a reputação do grupo como artistas que pensavam além da música. A visão de Roger Waters, a execução desafiadora pela Hipgnosis e o inusitado incidente do porco voador contribuíram para criar uma das capas mais emblemáticas do rock progressivo.
Hoje, a Battersea Power Station é um marco histórico, eternizada não apenas como uma usina elétrica, mas como um ícone cultural graças ao Pink Floyd.
Curiosidade: Em 2023, durante a restauração da usina, o porco voador foi recriado em homenagem ao legado da banda, provando que Animals continua relevante décadas após seu lançamento.
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