
De acordo com o Financial Times, grandes empresas de tecnologia de defesa, como Palantir e Anduril, de Palmer Luckey, estão negociando com SpaceX e OpenAI para formar um consórcio com o objetivo de disputar contratos de defesa do governo dos Estados Unidos.
Esse grupo, que pretende anunciar sua formação já em janeiro de 2025, almeja romper o domínio dos tradicionais "prime contractors" que, historicamente, monopolizam os grandes acordos com o Pentágono. Empresas como Lockheed Martin, Raytheon (agora RTX) e Boeing estão no alvo dessa iniciativa disruptiva.
Por Dentro do Modelo Atual
Não há dúvidas de que as gigantes do setor se destacam em contratos de defesa. Em 2023, o Departamento de Defesa dos EUA reportou ganhos impressionantes para essas empresas:
- Lockheed Martin: US$ 61,4 bilhões;
- RTX (Raytheon): US$ 24,1 bilhões;
- Boeing: US$ 20,1 bilhões.
Essas cifras são ainda mais notáveis quando se considera que, em 2021, 71% da receita da Lockheed Martin, quase 50% da RTX e uma parcela similar da Boeing vieram diretamente do governo federal. Apesar dessa dependência, essas empresas operam com autonomia, sem controle direto do governo sobre suas operações ou lideranças.
O Consórcio de Tecnologia como Alternativa?
A ideia de quebrar o oligopólio parece promissora, mas a composição desse consórcio levanta questões éticas e práticas.
Palantir: Conhecida por ser o "braço direito" em sistemas de IA do Departamento de Defesa, a empresa conquistou contratos de US$ 100 milhões e US$ 480 milhões para ferramentas de decisão e análise de dados militares. Contudo, a Palantir já esteve envolvida em controvérsias, como o suporte tecnológico ao ICE (Immigration and Customs Enforcement) nos EUA, contribuindo para separações de famílias migrantes. Também é central na tecnologia usada por Israel em Gaza, que resultou em milhares de mortes.
Anduril: Apontada pela Bloomberg como “a startup mais controversa da tecnologia”, fabrica torres de sensores para monitoramento de fronteiras, drones de guerra e desenvolve satélites de vigilância. Essas iniciativas frequentemente geram debates éticos.
OpenAI: Recentemente, anunciou uma parceria com a Anduril para sistemas antidrone, gerando inquietação entre funcionários que não desejam contribuir com projetos militares. A empresa até removeu discretamente de sua política restrições ao uso militar de sua tecnologia.
O Fator Peter Thiel
Grande parte desse consórcio compartilha um nome em comum: Peter Thiel, o bilionário com ideologia tecnolibertária. Thiel é fundador da Palantir, cofundador da OpenAI, investidor inicial da SpaceX e financiador de destaque da Anduril. Sua influência desperta preocupações, especialmente devido à sua postura hostil à democracia e foco na "evolução tecnológica a qualquer custo".
O Novo Versus o Tradicional
Embora o consórcio tecnológico prometa desafiar o status quo, é difícil determinar se sua abordagem trará mais segurança ou simplesmente novos problemas. O monopólio das antigas contratadas pode ser problemático, mas colocar as rédeas da defesa nacional em um grupo liderado por empresas com históricos éticos questionáveis e um foco avassalador em lucros tecnológicos pode não ser a solução ideal.
No final, talvez o "mal benigno" do modelo tradicional ainda pareça menos assustador do que os riscos de um futuro hiper-tecnológico nas mãos do consórcio.
Tags: Anduril, Inteligência Artificial, OpenAI, Palantir, Defesa dos EUA
0 Comentários