
Aos 17 anos, Pietra Estrela Aquino, judoca de Brasília, alcançou um feito memorável ao conquistar a prata na Gymnasiade Sub-18, no Bahrein, o maior campeonato escolar do mundo. Essa vitória, no entanto, levanta questionamentos sobre as dificuldades enfrentadas pelos atletas brasileiros para chegar ao cenário internacional e destaca a carência de investimentos no esporte de base no Brasil, algo que programas como o Bolsa Atleta e o Compete Brasília tentam suprir, embora de forma ainda limitada.
Para Pietra, o apoio do Governo do Distrito Federal foi essencial para custear a longa viagem de mais de 11 mil km até Manama, mas não deixa de ser um paliativo em um contexto onde os jovens atletas precisam recorrer constantemente a incentivos governamentais, que nem sempre chegam a todos. "Se não fosse pelo apoio, talvez nem conseguiríamos competir. Hoje em dia, está tudo muito caro e, sem esse tipo de ajuda, acabamos em desvantagem frente a atletas de países que investem pesado em suas bases esportivas", explica a jovem.
A trajetória de Pietra começou aos quatro anos e, desde então, foram necessárias diversas renúncias e um compromisso intenso com o judô, sem qualquer garantia de estabilidade ou apoio contínuo. Os recursos do Compete Brasília, que cobrem passagens para competições, são, na prática, limitados e obrigam atletas e familiares a preencherem uma série de requisitos e prazos rígidos, o que acaba dificultando o acesso ao incentivo em um esporte onde cada segundo de experiência competitiva conta.
Além disso, o esporte feminino, especialmente nas modalidades de luta, ainda sofre com estereótipos e falta de visibilidade. Pietra, que inicialmente enfrentou preconceitos ao optar pelo judô em vez do balé, teve que insistir para que seu talento fosse levado a sério. Hoje, com várias medalhas no currículo, seu objetivo é competir nas Olimpíadas de Los Angeles em 2028, um sonho que, em vez de ser impulsionado por um programa nacional robusto, depende de apoio esporádico e de muito esforço pessoal.
Robert Marques, treinador de Pietra, alerta que o Brasil ainda está longe de oferecer uma estrutura adequada para que os jovens talentos tenham um desenvolvimento esportivo constante. “Competir no cenário nacional e internacional requer uma logística que a maioria dos atletas não consegue bancar. A realidade é que os programas de incentivo, apesar de importantes, ainda não são suficientes para criar oportunidades igualitárias e manter o Brasil competitivo no esporte global”, critica o técnico.
Em um país que historicamente não prioriza o esporte de base e cuja maior fonte de medalhas olímpicas, o judô, ainda enfrenta falta de apoio massivo, o futuro de atletas como Pietra é incerto. O esforço individual e o apoio familiar são frequentemente colocados à prova, sem uma política esportiva sólida que garanta um caminho contínuo para talentos promissores.
Fonte: Agência Brasília
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