
Análise crítica do PL 864/2019 de Romário e da promessa da CBF de profissionalizar a arbitragem até 2026. Será que a mudança virá, garantindo foco e diminuindo fraudes no futebol brasileiro, dada a gritante disparidade de valores?
A discussão sobre a profissionalização da arbitragem no futebol brasileiro é um daqueles temas que pipocam de tempos em tempos, geram burburinho e depois caem no esquecimento. Agora, com o Projeto de Lei (PL) 864/2019 do senador Romário ganhando tração e a própria CBF prometendo uma "primeira leva" de árbitros profissionais com contrato até o final de 2026, a pergunta que fica é: será que desta vez vai ou é mais uma jogada de marketing político e uma promessa vazia com data marcada?
A Realidade Crua da Arbitragem Brasileira: Entre o Apito, o Outro Emprego e a Disparidade Salarial
Enquanto clubes, jogadores e a própria Confederação Brasileira de Futebol (CBF) faturam bilhões, a vida do árbitro é um misto de paixão e precariedade. Atualmente, a maioria atua como autônoma, recebendo por partida e sem direitos básicos como férias, 13º salário ou qualquer segurança em caso de lesão. Isso não só desvaloriza uma função essencial para o espetáculo, mas também cria um ambiente onde a dedicação exclusiva é um privilégio, não uma regra.
É justamente por essa falta de vínculo formal que muitos árbitros são obrigados a ter outro emprego para complementar a renda. Essa realidade, infelizmente, atrapalha diretamente o foco e a dedicação que a função de árbitro exige. Como se concentrar totalmente nas complexas regras do jogo, nas nuances táticas e na pressão de decisões milimétricas se a cabeça está dividida entre o campo e as responsabilidades do outro trabalho? A falta de tempo para treinamentos intensivos, estudos aprofundados das regras e recuperação física adequada é um reflexo direto dessa informalidade.
Para piorar, a remuneração, que já não é fixa, apresenta uma disparidade brutal entre os árbitros. Primeiro, a diferença entre os que possuem o distintivo FIFA e os demais no quadro da CBF:
Valores Recebidos por Árbitros em Jogos da Série A do Campeonato Brasileiro (2025)
Remuneração por Jogo para Árbitros da Categoria CBF (Não-FIFA) por Série (2025)
O senador Romário, relator do PL 864/2019, defende a criação de um vínculo empregatício para árbitros e assistentes. A ideia é nobre e necessária: dar dignidade à profissão, permitindo que esses profissionais se dediquem integralmente ao aprimoramento.
E agora, a cereja no bolo: a CBF, em pleno 2025, vem a público e estabelece o final de 2026 como prazo para ter um grupo de árbitros profissionais com contrato. Essa declaração do coordenador-geral da Comissão de Arbitragem da CBF, Rodrigo Cintra, soa como um reconhecimento tardio de um problema crônico. Mas será que é um compromisso sério ou apenas uma tentativa de acalmar os ânimos enquanto o PL de Romário tramita no Senado?
Mais Responsabilidade e Menos Suspeitas: O Que a Profissionalização Pode Trazer
Além da dignidade e da dedicação, a profissionalização carrega consigo uma camada crucial de responsabilidade. Um árbitro com vínculo empregatício, submetido a um código de conduta mais rigoroso, a processos disciplinares bem definidos e, principalmente, com estabilidade financeira, tende a ter um compromisso ético muito maior com sua função.
Essa formalização da relação de trabalho pode ser um antídoto poderoso contra as recorrentes suspeitas de fraude e manipulação na arbitragem brasileira. Quando o árbitro não está vulnerável financeiramente ou sujeito à informalidade, a chance de ele se envolver em esquemas ilícitos diminui consideravelmente. A profissionalização cria um ambiente de maior transparência e accountability, onde cada erro e cada acerto têm consequências claras, elevando o patamar de exigência sobre esses profissionais.
Entre a Boa Intenção, a Pressão Política e a Prática Questionável
Apesar da urgência do tema, a burocracia e os interesses envolvidos sempre freiam o avanço. O PL de Romário está em análise no Senado e a criação de um grupo de trabalho para "discutir a complexidade" da questão soa mais como uma forma de empurrar com a barriga, ou, no mínimo, de ganhar tempo. Quantas discussões e grupos de trabalho são necessários para reconhecer que um profissional que atua em um esporte bilionário precisa de direitos trabalhistas e de um ambiente livre de suspeitas?
A CBF, que por tanto tempo se esquivou dessa responsabilidade, agora usa o relatório de Romário como "referência" e estabelece um prazo. Essa é a hora de cobrar: o que a CBF realmente fará para tirar a arbitragem da informalidade até o final de 2026? Não basta usar o PL como pano de fundo e lançar uma data para dizer que está "trabalhando". Queremos ver ações concretas, modelos de contratação, remuneração justa e compromissos reais. A promessa é um primeiro passo, mas o futebol brasileiro já está cansado de promessas não cumpridas.
O Que Falta Para a Mudança Acontecer de Verdade?
A verdade é que a profissionalização da arbitragem não é apenas uma questão de justiça social; é fundamental para a credibilidade do nosso futebol. Árbitros mais preparados, seguros e dedicados significam menos polêmicas, jogos mais justos e um espetáculo de maior qualidade para os torcedores. E, acima de tudo, um processo com maior vigilância e menos brechas para a corrupção.
A bola está com o Senado e, principalmente, com a CBF. É preciso coragem para enfrentar os custos e as resistências, deixando de lado o discurso vazio e partindo para a ação. Chega de "discussões complexas" e de jogar a culpa para o próximo. A hora de profissionalizar a arbitragem é agora, antes que a categoria, e o próprio futebol, se afundem ainda mais na lama da informalidade e da desvalorização.
A CBF prometeu 2026. Será que, desta vez, a promessa se transformará em realidade e trará a tão sonhada profissionalização, o foco total dos árbitros em sua função e, principalmente, a diminuição das suspeitas de fraudes em nossos gramados?
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