O Brasil vive um momento peculiar em sua política econômica. De um lado, temos um governo que anuncia pacotes de ajuste fiscal com grande alarde, mas que consistentemente evita enfrentar o verdadeiro elefante na sala: o crescimento descontrolado das despesas obrigatórias. De outro, um Congresso que cobra responsabilidade fiscal, mas mantém engavetadas propostas que poderiam contribuir efetivamente para o equilíbrio das contas públicas.
As propostas de ajuste fiscal enviadas pelo governo ao Congresso Nacional estão paradas, como revelou reportagem do Valor Econômico esta semana. Entre os temas sem avanços estão a previdência dos militares e a limitação aos supersalários no serviço público. Enquanto isso, o presidente da Câmara, Hugo Motta, já sinalizou que não há compromisso do Congresso em aprovar as medidas alternativas ao aumento do IOF apresentadas pelo ministro Fernando Haddad.
Este cenário ilustra perfeitamente o que chamo de “política do espelho retrovisor” - todos olham para trás, apontando culpados, enquanto o veículo segue em direção ao precipício. O governo federal insiste em soluções pelo lado da receita, aumentando a já extenuante carga tributária brasileira, enquanto o Congresso critica, mas não avança nas pautas que poderiam reduzir gastos estruturais.
Os números são claros e preocupantes. O Banco Mundial acaba de reduzir a projeção de crescimento do PIB brasileiro para 2,4% em 2025 e 2,2% em 2026, citando especificamente as “políticas monetárias restritivas do País e o apoio fiscal limitado” como fatores que “pesarão sobre os investimentos e os gastos dos consumidores”.
Enquanto isso, o valor reservado às emendas parlamentares no Orçamento deste ano chega a R$ 50,5 bilhões, acrescido de R$ 11,2 bilhões em despesas discricionárias do Executivo. Para contextualizar, este montante é superior ao orçamento de ministérios inteiros e representa um crescimento exponencial nos últimos anos.
A agência Moody’s indicou recentemente que um acordo entre os poderes em torno de reformas nas despesas poderia contribuir para uma eventual melhora na nota de crédito do país. Mas o que vemos é um jogo de empurra onde cada lado espera que o outro tome as medidas impopulares necessárias.
O Brasil precisa urgentemente de um pacto pela responsabilidade fiscal que vá além de medidas pontuais e enfrente os problemas estruturais. Isso significa revisar privilégios, modernizar a máquina pública e estabelecer limites claros para o crescimento das despesas obrigatórias. Sem isso, continuaremos neste ciclo vicioso de juros altos, crescimento baixo e oportunidades perdidas.
A história econômica nos ensina que não existe almoço grátis. A conta sempre chega - seja através de inflação, juros altos ou carga tributária crescente. A questão é: quanto tempo mais o país vai adiar as decisões difíceis que precisam ser tomadas?
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