Alexsandro, zagueiro do Lille, superou a pobreza extrema no lixão de Jardim Gramacho para brilhar na Seleção Brasileira em 2025. Uma história de resiliência e fé. #Futebol #Inspiração
Há histórias que transcendem o esporte, que falam ao coração e reacendem a esperança. A de Alexsandro Victor de Souza Ribeiro, zagueiro de 25 anos do Lille, é uma dessas. Convocado por Carlo Ancelotti para a Seleção Brasileira em 26 de maio de 2025, para as Eliminatórias da Copa de 2026, Alexsandro não é apenas um jogador. Ele é a prova viva de que, com determinação e fé, é possível transformar um passado de privações em um futuro de glórias. Do lixão de Jardim Gramacho, em Duque de Caxias (RJ), ao gramado da Champions League, sua jornada é um hino à resiliência.
Raízes no Lixão: A Luta desde a Infância
Nascido em 9 de agosto de 1999, na comunidade do Dique II, Alexsandro cresceu em um dos cenários mais desafiadores do Brasil. Filho mais velho de cinco irmãos, ele viveu ao lado do lixão de Jardim Gramacho, onde a sobrevivência da família dependia da coleta de latinhas e materiais recicláveis. Aos 10 anos, já trabalhava como catador, feirante, cortador de grama e ajudante em obras, carregando nos ombros a responsabilidade de ajudar a mãe. “Eu abria a geladeira e não tinha nada. Via o desespero da minha mãe, e isso me dava forças para mudar nossa história”, revelou ao ge. Cada lata coletada não era apenas um sustento; era um símbolo de esperança em um futuro melhor.
Primeiros Sonhos no Futebol e Portas Fechadas
O futebol surgiu como uma luz na escuridão. Alexsandro ingressou nas categorias de base do Flamengo, onde jogou ao lado de Vinicius Júnior e Hugo Souza, em uma geração que colecionava títulos. Mas, em 2016, o sonho sofreu um duro golpe: ele foi dispensado. Tentou a sorte no Fluminense, mas enfrentou novas rejeições. “Eu me perguntava se valia a pena continuar. O futebol parecia um sonho distante”, confessou. Esses “nãos” poderiam ter encerrado sua carreira, mas, em vez disso, fortaleceram sua determinação.
Um Ano de Silêncio (2016-2017)
Entre 2016 e 2017, Alexsandro viveu o momento mais sombrio de sua jornada: ficou sem clube por cerca de um ano. Sem oportunidades no futebol, voltou às ruas de Duque de Caxias, coletando latinhas e trabalhando em bicos para sustentar a família. A incerteza o levou ao limite. “Eu desisti, mas as dificuldades em casa se tornaram minha força. Eu sabia que precisava tentar de novo”, disse. Esse período foi um teste de fé, um deserto onde ele aprendeu a transformar dor em motivação.
A Chama Reacende no Resende
Em 2017, uma oportunidade modesta mudou tudo. Alexsandro foi acolhido pela base do Resende, clube da Série A-2 do Campeonato Carioca. Longe dos holofotes, ele encontrou espaço para mostrar seu talento como zagueiro. Com 1,92m de altura e uma vontade inquebrantável, começou a reconstruir seu caminho. O Resende foi mais do que um clube; foi o palco de sua redenção, onde ele provou que ainda tinha muito a oferecer.
O Salto para Portugal: Um Novo Começo
Em 2018, um ex-treinador do Fluminense abriu uma porta inesperada: um convite para jogar em Portugal. Alexsandro agarrou a chance e desembarcou no Amora (2018/19), seguido pelo Praiense (2019/20), ambos da quarta divisão portuguesa. Em gramados precários e com salários modestos, ele se destacou pela força física, liderança e consistência defensiva. “Eu sabia que era uma chance única. Não podia desperdiçar”, afirmou.
Em 2021, deu um passo maior ao assinar com o Desportivo Chaves, da Segunda Divisão de Portugal. Como titular, foi peça fundamental na campanha que garantiu o acesso à Primeira Liga na temporada 2021/22. Sua habilidade em duelos aéreos e leitura de jogo chamou a atenção de olheiros, colocando-o no mapa do futebol europeu.
O Brilho no Lille: Do Sonho à Realidade
Em 2022, o Lille, clube de elite da Ligue 1 francesa, investiu 2 milhões de euros para contratar Alexsandro. Sob o comando de Paulo Fonseca, ele se tornou pilar da defesa, conquistando a torcida com atuações impecáveis. Até maio de 2025, disputou 112 partidas, marcou cinco gols e deu duas assistências. Na temporada 2024/25, jogou 47 partidas (46 como titular), com 90% de acerto nos passes, 71% de eficiência em duelos aéreos e 258 bolas recuperadas, segundo o Sofascore, com uma nota média de 7.18.
Um dos momentos mais emblemáticos de sua carreira foi a vitória do Lille por 1 a 0 contra o Real Madrid, de Carlo Ancelotti, na Champions League 2024/25. Nesse jogo, Alexsandro reencontrou Vinicius Júnior, seu amigo de infância no Flamengo. “O abraço do Vini antes do jogo encheu meu coração. Me deu ainda mais força”, contou. A vitória contra um gigante do futebol mundial foi um marco, um símbolo de sua ascensão meteórica.
O Chamado da Seleção: Um Sonho Conquistado
Em 26 de maio de 2025, Carlo Ancelotti anunciou sua primeira convocação como técnico da Seleção Brasileira, para os jogos contra Equador (5 de junho) e Paraguai (10 de junho) pelas Eliminatórias da Copa de 2026. O nome de Alexsandro na lista de 25 jogadores foi uma surpresa que emocionou o Brasil. Em um momento de renovação na defesa, sua convocação reconheceu seu talento e sua história única. “Quando soube, chorei. Pensei na minha mãe, nos meus irmãos, no lixão. Tudo valeu a pena”, disse, com a voz embargada. Era a consagração de um menino que nunca deixou de acreditar.
O Zagueiro que Conquista o Mundo
Com 1,92m, Alexsandro é um zagueiro moderno: domina o jogo aéreo, é preciso nos passes e antecipa jogadas com inteligência. Sua versatilidade o permite atuar como lateral-esquerdo, mas é no centro da defesa que ele se destaca. Sua consistência no Lille o colocou entre os melhores defensores da Ligue 1, e suas atuações na Champions League mostraram que ele está pronto para o palco global.
Um Sonho Maior: A Copa de 2026
Com contrato no Lille até 2028, Alexsandro já mira a Copa do Mundo de 2026. “Penso no agora, plantando passo a passo para colher coisas boas”, afirmou. Mas sua história vai além dos troféus. “Menti para mim mesmo. Sabia que as coisas poderiam não acontecer, mas voltei a acreditar e fiz acontecer”, refletiu. Ele é um farol de esperança para jovens que enfrentam adversidades, mostrando que o talento, aliado à perseverança, pode romper qualquer barreira.
Um Legado de Esperança
Alexsandro Victor de Souza Ribeiro não é apenas um jogador de futebol. Ele é a personificação da resiliência, da fé e da força de quem transforma a dor em combustível. De catador de latinhas no lixão de Jardim Gramacho a estrela da Seleção Brasileira, sua jornada é uma lição para o mundo: nenhum sonho é grande demais, nenhum obstáculo é intransponível. Alexsandro não apenas venceu no futebol; ele venceu a vida, carregando consigo a história de milhares que sonham em mudar seu destino. E, agora, ele leva o Brasil no peito, pronto para escrever novos capítulos.
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