
A história de Aleysha Ortiz, jovem de 19 anos que se formou no ensino médio nos Estados Unidos sem saber ler ou escrever, expõe falhas estruturais profundas no sistema educacional. O caso, que repercutiu amplamente na mídia, levanta questionamentos sobre a qualidade do ensino, o real significado de uma diplomação e as consequências da falta de suporte adequado a estudantes com dificuldades de aprendizagem. Ao compararmos essa realidade com a educação brasileira, percebemos que o problema da "aprovação automática" não é exclusividade dos EUA e que o Brasil enfrenta desafios semelhantes.
Educação nos EUA e a Aprovação Sem Aprendizado
Aleysha Ortiz, apesar de ter sido aprovada ano após ano, terminou o ensino médio analfabeta. Sua formação com honras deveria indicar excelência acadêmica, mas, na realidade, era um reflexo de um sistema que falhou em ensiná-la. A estudante processou o Conselho de Educação de Hartford por negligência, expondo não apenas sua própria jornada, mas um problema recorrente na educação pública americana: a desigualdade no atendimento a alunos com dificuldades de aprendizagem, muitas vezes agravada por recortes socioeconômicos e raciais.
O caso evidencia como a falta de diagnóstico adequado para transtornos como dislexia e TDAH compromete o futuro acadêmico de milhares de jovens. A educação especial, em muitos distritos escolares americanos, é deficiente e varia drasticamente conforme o código postal, deixando estudantes vulneráveis à falta de suporte adequado.
O Reflexo no Brasil: Ensino Público e Progressão Continuada
No Brasil, o problema se manifesta de forma semelhante, mas dentro do contexto da "progressão continuada". Aprovada com a intenção de evitar a evasão escolar e reduzir taxas de reprovação, essa política permite que alunos avancem de série mesmo sem dominar conteúdos básicos. O resultado é um ciclo de deficiência educacional que culmina com estudantes chegando ao ensino médio (e até ao ensino superior) sem ação concreta para resolver suas dificuldades de aprendizado.
Estudos apontam que a alfabetização tardia é um problema grave no Brasil. Segundo dados do INEP, cerca de 40% dos estudantes do 3º ano do ensino fundamental não possuem habilidades adequadas de leitura. No ensino médio, muitos concluem a escolarização sem compreender textos complexos ou resolver operações matemáticas básicas. Como nos EUA, a falta de suporte especializado às dificuldades de aprendizagem é uma questão crítica.
Os Impactos da Formação Deficiente
Quando um estudante recebe um diploma sem a formação adequada, ele é lançado ao mercado de trabalho ou ao ensino superior com deficiências severas. No caso de Aleysha Ortiz, a solução encontrada foi o uso intensivo de tecnologia para burlar suas dificuldades, algo que não está ao alcance de todos. No Brasil, estudantes enfrentam desafios ainda maiores, já que a falta de acesso a recursos tecnológicos e apoio individualizado compromete ainda mais a possibilidade de recuperação acadêmica.
A formação deficiente também impacta a economia e a sociedade. Um sistema educacional ineficiente perpetua desigualdades sociais e limita as oportunidades de ascensão econômica, reforçando ciclos de pobreza. Além disso, a presença de profissionais com formação inadequada afeta a produtividade e a competitividade do país.
Caminhos para a Mudança
Para evitar que mais estudantes tenham um futuro comprometido pela ineficiência do sistema educacional, é essencial repensar as estratégias de ensino e avaliação. Algumas soluções incluem:
Fortalecimento da educação básica: Investimentos na alfabetização infantil e na formação docente são fundamentais para garantir que as crianças adquiram habilidades essenciais desde cedo.
Monitoramento real da aprendizagem: Em vez da aprovação automática, o progresso acadêmico deve ser acompanhado com rigor, oferecendo reforço escolar para alunos com dificuldades.
Diagnóstico precoce de dificuldades de aprendizagem: Testes e acompanhamento especializado podem identificar problemas como dislexia e TDAH antes que prejudiquem toda a trajetória escolar.
Maior valorização da educação especial: Políticas de inclusão eficazes devem garantir que alunos com deficiências de aprendizagem recebam o suporte adequado.
Revisão do modelo de progressão continuada: O critério de aprovação deve estar atrelado ao aprendizado real, com mecanismos eficazes de recuperação para os estudantes que ficarem para trás.
O caso de Aleysha Ortiz é um alerta global sobre as falhas do sistema educacional. A história de uma jovem que superou barreiras impostas pelo próprio sistema é inspiradora, mas também uma evidência de que muitas outras crianças e adolescentes não terão a mesma resiliência ou oportunidades. No Brasil, os desafios são semelhantes e exigem mudanças urgentes. Apenas com um compromisso real com a educação pública de qualidade poderemos garantir que histórias como essa se tornem exceção e não a regra.
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